29.1.10

Das últimas palavras

As palavras que havia falado a ele ontem soavam como sussurros distantes ao seu ouvido. Palavras, gestos, expressões vinham a sua mente como se estivesse a assistir uma cena daquele filme. Não o final. Uma cena. Talvez uma das últimas...

E sentada à mesa num sábado onde nem a lua nem as estrelas a acompanhavam, e já um pouco tarde, tanto nas horas quando no arrependimento, a menina lembrava da sua decisão. Agora se perguntava e respondia para si mesma que sim, havia escolhido o melhor caminho daquela bifurcação. Havia se resolvido por esquecer tudo, todos, fechar a porta do jardim por um (muito) tempo e tentar restituí-lo.

Só esperava que o tempo ajudasse. Esperava o sol chegar. Gostava da chuva, achava até o inverno uma das melhores estações. A melhor, na verdade. Uma época maravilhosamente encantadora. Assustadora (raios! trovões!). Exuberante. Exuberantemente encantadora com seus sustos. Sustos esses dos quais ainda tentava se recuperar.

Cansou de escrever e repousou o lápis sobre a mesa. Num ato de desespero (da alma), passou as mãos pelos cabelos e deixou que elas escorregassem pela face úmida.
- Amanhã, quem sabe!
E não olhou mais para trás. Não até a hora em que dormiu e sonhou com o dia anterior.

4.1.10

Varal

Varal
"Arame tenso sob o sol
Quem vê amor ali?
Quarando, secando, esticado sob o sol
Pronto prá molhar de amor
Arame espesso risca o céu
Quem vê a dor ali?
Rasgando, rompendo, atravessando o véu
Pra descansar da dor
Rebenta a bolsa, revela ao mundo a cabeça
Quem tiver que mereça a coroa"