26.3.10

Responda quem puder (ajudar)

Querido Amigos (Amigos. É isso né?), respondam, porque ando aflitíssima: O que fazem, a quem recorrem, que decisões, posições ou remédios tomam para não cansarem logo das coisas? Falo das coisas que a gente tem que conviver sempre. Das pessoas, dos risos da mesma piada, do ônibus lotado, da falta de notícias, das manias, do ponteiro que nunca quer sair do lugar e insiste em ficar no dez. Sempre no dez. O ponteiro no dez. Meu Deus, por que o ponteiro nunca sai do dez?
Sempre no dez.
Amigos, não coloco a culpa nos hormônios, fase, ou nas pessoas. A culpa é toda minha, amigos. A culpa é toda minha e eu deixo que ela fique sempre na barra da saia, puxando, pedindo pra ir pra rua.
- Não pode!
Me expliquem como nunca fazer cara feia quando se perde o ônibus, quando se tira nota baixa, quando fazem justo o que você pediu que não fizessem, quando se tropeça. Eu imploro, me digam como mantêm sempre o sorriso na cara, sempre o sorriso na alma, sempre assim, bonitos. Me ensinem como fazer de um simples mostrar de dentes um motivo de felicidade!
Felicidade é o quê pra vocês, amigos?
Esse tempo todo e o ponteiro ainda tá no dez...

25.3.10

Entre a noite e o dia

Ia o silêncio quando foi rompido por uma incrível aglomeração de soldados fardados de palavras. Suas botas pisavam a terra molhada, encharcada pelas lágrimas das tristezas daquele lugar distante. Corpos inertes presos com correntes de silêncio em cadeiras de balanço paradas. Mundo morto. Foi quando perceberam um tímido crepúsculo, que ia surgindo no meio da cidade sombria tomada pelo medo. E assim surgiu o primeiro olhar através da densa escuridão. Os soldados pararam e esperavam alguma luz que os guiasse. E então apareceu uma menina, de caminhar tão leve que parecia voar, vestida de flores, e na cabeça uma tiara de borboletas, que cantava uma canção. Limpou a alma, chamou a atenção, e desarmou todos os soldados fardados. Os corpos, agora em ânsia de esperança, mas ainda parados, voltaram apenas o olhar para a menina. Não esperavam, quando magicamente, a menina de olhos verdes e alegres, deu uma pirueta. Duas piruetas. Três piruetas. Quatro piruetas. Na quinta, uma chuva de cores. Desarmandos e arrependidos, os soldados conseguiram ver, mesmo em meio a lágrimas, uma estrela baixa que se explodiu em saquinhos de pó-de-luz. A menina na frente, e os soldados, agora esperançosos, iam marchando em prol de um único desejo: o amor! Sendo assim, caminharam em direção as cadeiras, sopraram fechos de luz nas algemas que desapareciam, permitindo que as pessoas, agora vivas, dessem as mãos. Então as densas trevas se dissiparam e deram lugar a uma atmosfera de cores, flores, cheiro de grama, vento, barulho do  mar,  sorrisos, abraços. Os soldados e as pessoas, unidos, riram riso extrapolado porque descobriram o verdadeiro valor do amor com amizade. A menina olhou pro céu e viu um cavalo dourado, com seu nobre e belo cavaleiro montado, vindo ao seu encontro. Foi quando... O despertador dispara: 5h40. Despertar. O banho frio levou pra longe toda a magia. O dia começou do lado de cá.

13.3.10

Carta

A história que essa carta conta é triste e banal. 

"Sei que certas notícias nos deixam vagamente preocupados. Mas a ausência das tuas obrigaram-me a comprar selos pra te enviar esta Carta. Há muito venho pensando em como o tempo quase não passa quando esperamos por algo. Esperava por qualquer coisa: um telegrama, uma carta, um bilhete, um cartão, uma lembrança. Todos os dias cumpria a sina de esperar o carteiro, já cansado, no fim da tarde, abrir a bolsa e entregar-me o envelope que faria com que o céu descesse até mim, e me fizesse deitar em qualquer nuvem, e me acolhesse pra que lesse as tuas palavras, ainda que poucas, pelo menos 3 milhões de vezes. Mas tudo o que eu tenho visto é o carteiro fazendo a curva no fim da rua, já cansado, no fim da tarde. E pela janela mantenho os olhos fixos no céu pra que mandem um sinal. Uma nuvem de chuva ou de fumaça. Alguma coisa que traga graça. Mas tudo o que eu vejo é o sol se pondo no mar. Do mar espero uma garrafa, com uma carta contando que estás chegando, que sentes saudades, que anseias me ver. Aí a noite chega. Confesso que falo pra mim mesma todos os dias as frases que gostaria de ouvir de ti. Frases que me fariam bem, como quando o sol ilumina o mar e nos traz a luz da manhã. E ainda que não me dissesses ao menos uma vírgula do que eu penso, anseio por que me digas a verdade. Só a verdade. Então levanto, procuro acender as luzes, por que meus olhos vão apagar. Não em sonhos, não em pensamentos. Se apagarão de medo que não lembres mais de mim. Os olhos de água vão molhando, lavando e levando os dias que espero por tuas notícias. Até que adormeço e tento manter-me nessa condição até que voltes. Por que a noite, a noite é pouca para o muito que sinto."

4.3.10

A cor do céu

Sabe, à tardinha voltando pra casa, levantei os olhos do livro e olhei pro céu pela janela. O céu que cobria o ônibus era totalmente azul, mas eu vi acima das casas uma cortina vermelha-alaranjada que queria tragar todas elas e que com certeza, queria alcançar também o ônibus. Me disseram uma vez que o céu é azul por causa do mar. Mas e aquele manto que surgia ali, devagar, bem-intencionado, seria então algum incêndio em algum lugar não muito distante? Eu sei que incêndios não são bons. Mas aquele era. Por que era tão lindo, sabe? Aí eu fiquei imaginando duas pessoas em algum banco de praça confessando uma pra outra através de olhares o quanto se gostavam.