18.12.10

11.12.10

Primaveril

(...) tudo isso doeu muito, Glorinha.
Mas agora, olhando pela janela, vejo mirados para o céu os girassóis que plantei no início da primavera. Desde que minhas mãos ficaram sem as outras com as quais se ocupar, resolvi dar-me às sementes, que me aceitam mesmo sabendo que estou com elas para não ser só. Há isso de gratificante em dar-se aos girassóis: eles primeiro crescem no nosso coração para só depois brotarem na terra. Assim como quando a gente começa a ter amor por alguém; o amor pega e cresce porque, de certa forma, a gente quer que isso aconteça, e vai querendo e ajudando.
Por que eu me ocupei da semente, tenho colhido assim, em frutos intangíveis, a paz do canto de um passarinho. E que culpa tenho agora das flores que nascem sozinhas, nos canteiros, nos cantos, até no canto que a moça, distraída, canta espantando os seus monstros?