30.11.10

dos últimos acontecimentos

Minha frase ecoando nos quatro cantos da casa: era só o que me faltava! Mas se é mesmo o que me falta, então que fique. E que preencha. E que nunca vá embora.

11.11.10

Meio termo

Todos os dias, eu pego o ônibus com um homem que ergue o olhar para o fundo do transporte enquanto passa pela catraca, e deixa seus olhos irem deslizando desde as últimas cadeiras. Avançariam até as primeiras se não me encontrasse ali no meio do ônibus, com a cabeça baixa sobre um livro enquanto pedaços dos meus pensamentos vão caindo e indo embora pela janela.
Todos os dias, após os olhos desse homem encontrarem-me no meio termo, entre a dúvida impetuosa e a vontade de deixar que os seus olhos pousem nos meus, seus lábios abrem um sorriso desejando-me um bom dia.
Poderia ser gentil, e levantar os olhos do livro, e deixar que qualquer coisa que haja entre a divisão dos seus cílios convença-me de que eu estou completamente errada quando penso que não há mais nem mesmo uma fagulha de amor nesse mundo. E que me convença ainda de que o mundo não pode conspirar contra qualquer ser humano, por menorzinho que ele seja. Pois o mundo - azul e redondo - não pode fazer nada além do seu movimento de rotação e translação.
Mas nada disso eu posso enxergar quando os meus olhos, com medo de se perderem na imensidão que é o olhar do outro, mantêm-se fixos àquilo que eu acredito ser a realidade. E qualquer distância entre a minha cadeira e a sua pode ser ultrapassada por alguns passos. Mas a distância maior ainda é essa: a distância entre o pensar e o agir. A distância que meu medo, tão cheio de pernas, não consegue ultrapassar.