16.6.11

Silenciando

Às vezes ponho-me em silêncio.
É que nessas vezes
eu sempre escuto
o silêncio alheio
falar.

10.6.11

A narradora

As ideias, como pássaros, pousaram lentamente sobre sua cabeça. Rodearam-na durante dias, até que conseguiram fazer adormecer os seus medos. Porque a menina contadora de histórias, sentada no último degrau da escada, não sabia em que ponto da história havia se perdido. Não sabia se havia sido no nó da linha do tempo, ou se a própria linha havia acabado. Quando chegaram ao último ponto, tudo o que restava era uma menina, de olhos e cabelos castanhos profundos, sentada no último degrau da escada em espiral, exatamente no último degrau onde havia escrito o último parágrafo da mais bela de suas histórias. E agora as histórias estavam apenas nos seus livros, nos guardanapos, até nas paredes do quarto, pois, se teria que viver trancada, que fosse entre quatro páginas.

As palavras que foram sussurradas agitavam as flores azuis que ela segurava no retrato, e ao seu lado só existia um monte de nada. Não era sequer o nada, já que o nada tem contornos bem definidos, os contornos daquilo que poderia existir, mas não. A menina das mãos desamparadas, sem poder alcançar parágrafo nem pontuação, sabia que deveria haver uma história ao seu lado, uma história que não enxergava, uma história que não participava e, tampouco, conseguia entrar. Ou não sabia. O outro narrador também não. Mas ela não sairia de suas páginas enquanto o seu coração estivesse vazio: um coração cheio de saudade está vazio. Pois, no dia em que todos forem embora, quem ficará para chorar? Até esse dia, ficarão assim, ela tão perdida quanto ele, sem saber aonde essa história vai dar.