23.11.15

Sobre inundações

Teus olhos são um mar, amor.
Eu, barquinho de papel.

"Não hoje, não mais. Nem nunca, jamais."

Querido Orlando,

Eu ainda não estou pronta pra mudar a minha vida pra sempre. E não sei se devo pedir desculpas a meus pais, a Deus, ao cacto que deixei morrer à míngua ou a menina que, gentilmente, pedia a todos que amanhecessem. 
Mas eu me pergunto: Vale a pena amanhecer-se cinza? É possível começar o dia pelo lado avesso, Orlando? Se o dia amanhece nublado, ele emenda com a noite e a gente nem nota. Vai passando dia e noite e a gente não entende como o tempo anda se o ponteiro do relógio volta sempre pro mesmo lugar. Se o tempo fica dando volta, Orlando, porque eu também não posso voltar? Em que hora o ponteiro do relógio rebentou e eu fiquei perdida, com as mãos no bolso, sempre um passo atrás de onde eu queria chegar?
Talvez, se eu consertar as horas, conserte também o tempo. E aí pode ser que eu consiga alinhavar com a linha do tempo os muitos minutos que eu perdi tentando encontrar a hora certa do abraço, do sorriso, das mãos dadas, do sim e do não que eu nunca dei.