25.2.11

Enquanto o sono não vem

Eu queria viajar de trem, lendo um livro, num vagão meio vago, vendo você do outro lado olhando discretamente, enquanto eu sorria.

5.2.11

Motivos de verão

Querido Orlando,

Não sei se a escrita antecipa a Rute ou se foi o contrário. Eu só sei que existe uma necessidade, uma maior do que a minha própria existência, que extrapola nervos e artérias, rompe tendões e atinge músculos: uma vontade do intangível, do inalcançável, que se torna simples e possível quando desenrolo os papeis de cartas, e após um suspiro, começo a escrever-te. Faço isso sem pressa, e sem ao menos resíduos de esperança de uma resposta. Apenas escrevo. Aconteça o que acontecer.

Porque existe isso de me sentar à janela e começar a desenrolar a linha do tempo. Vindo do último capítulo, do último dia de primavera, e desfazendo-me dos embaraços e dos nós. Desfazendo-me de nós, com as minhas mãos sobre o meu colo, querendo encontrar motivos para a primavera ter que acabar assim, levando consigo o mais belo dos arco-íris que surgiu após a chuva e você dividiu comigo o seu guarda-chuva amarelo.

Até onde vai a primavera? Até a rua mais próxima? Até uma folha flutuando no lago? Ou será que até os nossos olhos nos olhos do outro? Mas os motivos da fuga da primavera, eu só encontro no verão. Quando os meus olhos, nos outros que eu encontro no espelho, liquefazem meus próprios labirintos, desaguando a solidão em palavras. Pois finda o último da primavera, mas amanhecerá um belo e sorridente dia de verão. Anoiteça o que anoitecer.

Queridos, a ideia do texto é originalmente do meu amigo Lucas Azevedo. Acho que ele estava preocupado com meu apego pela primavera e sugeriu o verão. E me fez um bem! Obrigada.