14.3.12
Sobre amanhecer-se
À medida que abriu os olhos, abriu também a manhã. E ao levantar os braços, estendeu por cima de si o céu, fazendo cair nos seus pés as estrelas erradias da última noite. Sorriu ao ver a revoada dos pássaros através da janela; ela mesma também estava voltando para o lugar donde partira. Durante a última noite, entendeu que qualquer ruído pode ser um trovão. Apoderou-se do silêncio, e não deixou nem que o pensamento falasse alto. Sentiu um aperto pela solidão das coisas e quis - embora em vão - segurar a lágrima que saltava dos olhos. Rompeu-se. Quando a tristeza é grande, como o mar, a lágrima é salgada. Inundou-se. Depois, deixou escoar de dentro de si os vestígios restantes da solidão. Desapegou-se. Seguiu o conselho: amanheceu-se, enfim.
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