25.4.11

Nos dias de Chuva

Atravessou a rua em direção a Padaria do Seu Teodoro, num dia de inverno, debaixo do seu guarda-chuva amarelo, e ia atenta ao mundo e as pessoas. Tentava decifrar todos os rostos, todas as feições. Estaria esse feliz? Por que motivo este outro está com a testa franzida? Deve ser por que tomou café sem leite. Ou talvez a sua carona demorou, demorou, demorou, e ele teve que andar debaixo desse guarda-chuva, sozinho. Mas, eu acho que  deve ter sido mesmo o café sem leite. Café sem leite definitivamente entristece as pessoas.
Mais alguns passos adiante, - não muitos, porque a padaria ficava logo na esquina da sua casa, mas esse era o único lugar mais longe que poderia ir sozinha, por isso, aproveitava cada segundo - outras tentativas de decifração de rostos, e Glorinha pensa numa outra alternativa.

- Um dia de inverno é um dia de solidão. - pensou Glorinha - Dia em que as pessoas se encolhem debaixo de agasalhos, e se dão um abraço apertado, com os lábios tremendo... Mas não tem ninguém ali nem pra abraçar nem pra beijar. Um dia de inverno é um dia de solidão - repetiu Glorinha.

E foi, olhando agora pra cada rosto e encontrando neles a falta de alguém, a falta do bom dia que só é quentinho quando se está debaixo do cobertor, das meias nos pés que o mantém aquecido durante a noite, do café levado até a cama junto com uma rosa. Um café com leite que essas pessoas não tomaram.

2.4.11

Quando penso, parte I

Às vezes eu penso assim: que cada um é um separado, sem ligação com o que existe do lado de fora, sem nenhum contato externo, sem influências. Mas na maioria do tempo o meu pensamento é isso: um não consegue sem o outro: tudo é parte de um todo.