14.3.12

Sobre amanhecer-se

À medida que abriu os olhos, abriu também a manhã. E ao levantar os braços, estendeu por cima de si o céu, fazendo cair nos seus pés as estrelas erradias da última noite. Sorriu ao ver a revoada dos pássaros através da janela; ela mesma também estava voltando para o lugar donde partira. Durante a última noite, entendeu que qualquer ruído pode ser um trovão. Apoderou-se do silêncio, e não deixou nem que o pensamento falasse alto. Sentiu um aperto pela solidão das coisas e quis - embora em vão - segurar a lágrima que saltava dos olhos. Rompeu-se. Quando a tristeza é grande, como o mar, a lágrima é salgada. Inundou-se. Depois, deixou escoar de dentro de si os vestígios restantes da solidão. Desapegou-se. Seguiu o conselho: amanheceu-se, enfim.

9 comentários:

Luane Chinaide disse...

E se desapegar é tão difícil...

Poeta da Colina disse...

Se todos pudessem um dia acordar assim...

sandrafofinha disse...

Lindo texto!! Adorei!! Tens um cantinho interessante pelos posts que eu vi. Beijinhos fofinhos!!

Alexandre disse...

São palavras como esta que nos fazem vagar por entre nossos próprios pensamentos e abrem nossa imaginação para o mais vasto universo: o nosso universo!

A forma como brinca com as palavras e as faz adquirirem sentido diferente do qual estamos acostumados me deixou boquiaberto. Lindo texto, parabéns!

Ariela disse...

E quando nos desapegamos, tudo fica tão simples! Quase nos esquecemos o porque éramos tão apegados, até que nos apegamos às novas coisas.

Lindo texto!

Anônimo disse...

Devemos amanhecer todos os dias, é assim que se segue.

beijos.

Unknown disse...

Simplesmente amei seu blog!
Sua escrita é muito especial!

Gaby Lirie disse...

Que bom saber desse amanhecer.
Que saudades do seu cantinho *.*

Beijos!

Maíra Cunha disse...

Que coisa linda, você escreve muito bem!