30.12.09

Sobre o Ano Novo e a camisa

Tá vendo a gente? Tão assim, tão respirando esperança! É porque a gente pensa que quando os 365 acabam, acabam também junto com eles os problemas, e as fracas forças, e as caladas vozes, e as flores. Mas não vê que isso é verdade? É verdade! Acaba tudo, num tocar de cílios, e nem dá tempo respirar, e a gente já é ano novo, e a gente já sabe amar de novo, e a gente já é melhor. E a gente já consegue ver aquela roupa velha, que tava tão amarrotada de lágrima e tão rasgada como a alma, agora ela é lavada e remendada!

A mãe diz que roupa velha não remenda: o pedaço novo não combina com o que restou, é visualmente feio. E a camisa velha ela coloca no chão, lá na porta que dá acesso ao nosso quintal. Porque a camisa, senhores, a camisa não presta. Mas aí é que eu acho que a camisa é útil! E sabe o por que, colega? A camisa deixa de vestir corpo, onde era moldada, e agora é pano de chão e muda a sua forma toda vez que a mãe, quando volta do quintal porque tá lavando roupa, volta pra cozinha e lança tempero em panelas. Por que no chão, e precisando somente dele, e já idosa, e já rasgada, e já enrugada, recebe nova função. A camisa. Ela agora impede, já de tão acostumada, que a gente quando chega molhado do banho de chuva, saia molhando a casa de água e de lágrima do escorregão.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei. Adoro teu blog, muito bom amor! Continue sempre escrevendo!