11.9.10

telefone de lata

Glorinha, eu entendo, que quando a solidão é muito grande, o mundo escapa do seu eixo e se inclina de tal forma que você perde o equilíbrio, enquanto móveis, memórias e quadros escorregam com toda força, espatifando-se contra a outra parede. Eu entendo também, Glorinha, que nessas horas é difícil agarrar-se a qualquer borda e pedir que, por favor, a gravidade dessa situação não te leve embora. É nessas horas, onde os dedos por um fio seguram-se à última esperança que ainda insiste em manter-se firme no chão, que eu te procuro. E te faço algumas perguntas sobre gente grande que de repente some e não me leva junto. E te digo que o telefone toca milhões de vezes, mas ninguém do outro lado quer atender. Então eu me alivo tanto e tanto, que não importa em que situação o mundo esteja, não me importa se todas as linhas telefônicas do mundo estão ocupadas; o nosso telefone de lata sempre vai me permitir que eu escute um convite carinhoso: vamos ver os girassóis que acabaram de florir!

4.9.10

novos ares

Eu sei, só precisa de paz quem está em guerra. E não há guerra mais silenciosa do que essa: eu deitada sobre a grama, procurando qualquer flor na qual me agarrar antes que essa leveza me faça flutuar. Quando enfim acabarem as forças, e o medo de que eu possa voar se esvair pelos poros junto com o suor do esforço para manter-se em terra firme, ganharei asas. E voarei graças às 20 mil borboletas que rodopiam em minha barriga.