29.7.11

Canteiro de girassóis

Querido Orlando,

Estive aqui me perguntando: desde quando o tempo existe? Qual a distância entre o começo dele e o seu fim? E se é como dizem, que é infinito, em que pedaço ou fatia do tempo meus olhos encontraram o teu? Onde parou o ponteiro do relógio no exato instante em que os teus olhos passaram a existir para mim? E até quando ele ficará ali, parado no tempo e no espaço, enquanto nós dois contamos histórias de girassóis e guarda-chuvas?

Porque existe isso de o tempo não passar, de a vontade não passar, de o amor não passar enquanto os olhos, cúmplices, contarem histórias que não existem nos livros, que não existe nem na imaginação de qualquer outra pessoa além dos dois. Histórias de uma certa primavera, de uma certa chuva inesperada, de um encontro casual, de uma ponte em forma de guarda-chuva unindo dois olhares, de umas sementes de girassóis presenteadas, de uma plantação germinando, crescendo, florindo e, inevitavelmente, morrendo... De um amor germinando, crescendo, florindo, mas que não morre. E não morre nunca. No nunca que só chega quando a linha do tempo acaba. Quando isso acontece todo mundo diz: "Ele volta..." e o relógio diz: "Ele volta..." e não volta. Porque o relógio dá voltas, mas o tempo, não.

Aí me surge outra pergunta, Orlando: quantas sementes serão plantadas para que eu preencha o canteiro dos seus pensamentos?

22.7.11

Feliz aniversário, decepção

Há vidas que se vivem em um dia. Mas há dias que podem durar uma vida inteira. E foi assim com nós dois. 
Enquanto o universo tinha as coisas individuais, - um céu, um sol, um mar - nós éramos dois. E éramos como quem só podia ser hoje e agora: como se o amanhã fosse algo muito distante e incerto. 

Era agosto e, enquanto eu estava refugiada com os meus medos, seus olhos de infinito me encontraram. Os medos afloraram e apelaram em gritos, rancorosos da última vez que eu os deixei transparecer. Mas aqueles eram olhos que não tinham segredos ou códigos, tão translúcidos como a água deste copo e não me davam alternativas... Porque existem olhos que são úmidos de oceano, que não ferem e nem rasgam, que são capazes de atravessar o céu sem perfurar as estrelas.

Eu deveria abrir mão da primavera do mês seguinte, de plantar as sementes no mês seguinte. E eu não sabia mais sobre o que falar, porque eu vivia as outras estações somente pela primavera. Era sobre isso que eu sabia falar: sobre as sementes germinando, sobre o regador, sobre como evitar as formigas e, principalmente, sobre como recolher as novas sementes. É sobre os girassóis que eu falo para o mundo, e ele gosta de me ouvir. 

Eu resistia escutando os meus medos gritarem na minha cara que, apesar de você me assegurar que não era igual aos outros e que duraria muito mais que a primavera, pois era amigo das flores de plásticos (as imortais flores de plástico!), você era igual. Mas eu não quis ouvir, e eu não pude evitar quando você me perguntou: vai fugir até quando?

Eu abri mão da primavera do mês seguinte, de plantar as sementes no mês seguinte. E agora, quando eu encostar a minha mão na sua e nascerem árvores de plástico como é que vai ser? Será que o mundo vai tampar os ouvidos? Será?  

8.7.11

"ter fé e ver coragem no amor"*

Eu sou um pouco desacreditada de tudo. Duvido muito, indago, questiono, busco justificativa, motivo nobre. Sou um pouco desacreditada de tudo: menos do amor.
Dele não duvido e nem desisto. Porque eu acho que o amor, diferente de tantos outros sentimentos, é coisa que a gente tem por direito. Como o ar, como ao nosso próprio corpo.

* trecho da música "último romance" - Los Hermanos