Querido Orlando,
Estive aqui me perguntando: desde quando o tempo existe? Qual a distância entre o começo dele e o seu fim? E se é como dizem, que é infinito, em que pedaço ou fatia do tempo meus olhos encontraram o teu? Onde parou o ponteiro do relógio no exato instante em que os teus olhos passaram a existir para mim? E até quando ele ficará ali, parado no tempo e no espaço, enquanto nós dois contamos histórias de girassóis e guarda-chuvas?
Porque existe isso de o tempo não passar, de a vontade não passar, de o amor não passar enquanto os olhos, cúmplices, contarem histórias que não existem nos livros, que não existe nem na imaginação de qualquer outra pessoa além dos dois. Histórias de uma certa primavera, de uma certa chuva inesperada, de um encontro casual, de uma ponte em forma de guarda-chuva unindo dois olhares, de umas sementes de girassóis presenteadas, de uma plantação germinando, crescendo, florindo e, inevitavelmente, morrendo... De um amor germinando, crescendo, florindo, mas que não morre. E não morre nunca. No nunca que só chega quando a linha do tempo acaba. Quando isso acontece todo mundo diz: "Ele volta..." e o relógio diz: "Ele volta..." e não volta. Porque o relógio dá voltas, mas o tempo, não.
Aí me surge outra pergunta, Orlando: quantas sementes serão plantadas para que eu preencha o canteiro dos seus pensamentos?
Um comentário:
Jamais serão suficientes, e se o tempo não volta, ele passa e o espaço para preencher será cada vez menor.
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