Há vidas que se vivem em um dia. Mas há dias que podem durar uma vida inteira. E foi assim com nós dois.
Enquanto o universo tinha as coisas individuais, - um céu, um sol, um mar - nós éramos dois. E éramos como quem só podia ser hoje e agora: como se o amanhã fosse algo muito distante e incerto.
Era agosto e, enquanto eu estava refugiada com os meus medos, seus olhos de infinito me encontraram. Os medos afloraram e apelaram em gritos, rancorosos da última vez que eu os deixei transparecer. Mas aqueles eram olhos que não tinham segredos ou códigos, tão translúcidos como a água deste copo e não me davam alternativas... Porque existem olhos que são úmidos de oceano, que não ferem e nem rasgam, que são capazes de atravessar o céu sem perfurar as estrelas.
Eu deveria abrir mão da primavera do mês seguinte, de plantar as sementes no mês seguinte. E eu não sabia mais sobre o que falar, porque eu vivia as outras estações somente pela primavera. Era sobre isso que eu sabia falar: sobre as sementes germinando, sobre o regador, sobre como evitar as formigas e, principalmente, sobre como recolher as novas sementes. É sobre os girassóis que eu falo para o mundo, e ele gosta de me ouvir.
Eu resistia escutando os meus medos gritarem na minha cara que, apesar de você me assegurar que não era igual aos outros e que duraria muito mais que a primavera, pois era amigo das flores de plásticos (as imortais flores de plástico!), você era igual. Mas eu não quis ouvir, e eu não pude evitar quando você me perguntou: vai fugir até quando?
Eu abri mão da primavera do mês seguinte, de plantar as sementes no mês seguinte. E agora, quando eu encostar a minha mão na sua e nascerem árvores de plástico como é que vai ser? Será que o mundo vai tampar os ouvidos? Será?
2 comentários:
Prefiro o que possa doer, mostrar o meu descaso. Se não criar raiz, como vencer o inverno?
Gostei muito do seu blog, se puder passar no meu e dar uma olhadinha e me seguir.. Beijos!
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