29.9.11

Feliz aniversário!*

Ela se levanta pela manhã. Abre os olhos, mas sente uma enorme preguiça de se levantar. Seu corpo etá totalmente relaxado e seu despertador toca sem parar. Ela toma fôlego para se levantar e olha para o seu celular: 29 de setembro.

O calor da manhã reluzente começa a invadir o seu corpo. Levanta-se e abre a janela. A luz do sol a deixa cega por alguns segundos. O cheiro que vem do campo em frente ao seu quarto, emana flores e frutas. Ela enfim, toma coragem para tomar um banho, frio.
Na mesa, várias pessoas queridas se sentam ao seu redor. Ela se sente amada, como em nenhum outro dia. Sua mãe lhe mostra a travessa de prata que sua avó lhe dera quando ainda era moça. O cheiro invadia toda a casa. A torta dourada, lhe lembrava aquelas de desenho animado que tanto desejara quendo ainda era criança. Sim, porque hoje, não era mais, ou talvez até fosse.


Ao cortar a torta, sente o incrível aroma da fruta que tanto gosta. A maciez da textura lhe agrada. Ao degusta-la, lembrou-se de toda a sua infância durante o tempo que a maciez da torta se desmanchava em sua boca. Era a torta de pêra que tanto gostava.
Durante os poucos minutos em que deliciava tal iguaria caseira, conversava com seus pais, lembrando do tempo em que brincava lá fora, próxima ao pé de pera, que tanto admirava. Hoje, o sabor daquela torta estava diferente. Podia apreciar o aroma, o sabor, a textura com mais propriedade. Não era mais aquela criança que se lambuzava toda e recebia broncas da mãe por querer comer a torta antes do almoço. Ela então entendeu: havia se tornado uma mulher.



*O texto é um presente da abiga Jéssica Lira. A torta de pera é contexto de uma história muito importante. Obrigada, amiga.

23.9.11

Como a primavera pode começar

Antes da segunda parte do trabalho, uma pausa para o chá. À minha frente está um homem de olhos de pêssego. Uns olhos assim tão doces e suaves que até se tem vontade de comê-los. Todas as tardes pede o chá de maçã, cravo e canela, e se ajeita o mais confortável possível, como se pudesse passar todo o resto da tarde ali. Eu olho pra o relógio impaciente, contando cada segundo pra o retorno ao trabalho.
- O meu é de camomila, por favor!

Durante o chá ele levanta os olhos (que vontade de comê-los!) e o elogia. Enquanto isso, o vapor que sai do chá mistura-se com o som da suas palavras que agora tem cheiro e cor. O homem à minha frente vai tomando o chá aos poucos, assoprando-o. Eu dou o primeiro gole e ai! Queimei a língua!

Depois do chá, chama o garçom e paga a conta. Agora seus dedos estão aninhados nos meus. Se fôssemos semente e terra, as suas raízes estariam em mim, e eu as alimentaria. Mas como dois seres assim tão diferentes podem fazer brotar uma flor?

13.9.11

o caminho do vento

Querido Orlando,

no fim da tarde eu abri a janela e senti o vento varrendo a primavera pra dentro de mim. Enchi o peito e expirei mil cores. O vento veio não sei de onde, mas não neguei-lhe que inundasse minha garganta, fizesse tempestade em minha barriga e se abrandasse ali em forma de borboletas coloridas. Quem sabe o caminho do vento? Se já não arrastou portas, telhados e janelas, já não levou fotografias a bueiros, já não virou páginas de livros ou carregou consigo uma folha por cinco segundos. Cinco segundos. Nos segundos eternos em que uma folha achava que poderia voar. Foi aí que eu entendi, Orlando, que nenhum amor nasce preso entre quatro paredes. Que nenhum amor floresce sem que percorra, nem por um instante, o caminho dos ventos. Um amor só é capaz de sobreviver no coração que é acostumado ao carinhos do universo.

4.9.11

os passarinhos

Quando era de manhã e Glorinha se acordava para dar comida aos passarinhos que a esperavam no quintal, ela ia correndo e gritando: hora de comer, passarinhos! Está na hora de comer!
Então o seu avô, Seu Cândido, a chamava, afagava a sua cabeça e pedia com doçura nos olhos e na fala: Não dê tempo aos passarinhos.