31.12.09

A menina que não sabia mentir

A menina admitia que não sabia mentir. Até tentava, mas era sempre surpreendida pela correnteza que saia da sua boca e levava a verdade ao ouvido do outro. Acho que é como quando a gente era criança e ia brincar de esconde-esconde. Lembra que ela, a menina, quando se escondia, e alguém estava a procurá-la, e chegava bem próximo, lembra como ela gritava? Era engraçado, todo mundo ria da menina que não sabia mentir.

Ofegante. Procurava conter a respiração com as mãos, juntinhas, formando uma concha (talvez quisesse ouvir o barulho do mar). Conseguia ouvir até o seu coração (Então era verdade que, sozinho e no silêncio, a gente ouve o coração?). E quando chegavam perto, mesmo sem vê-la, ela gritava. Talvez tivesse algum distúrbio mental.

E é por isso que ela, a menina, e eu, achamos que a gente sempre carrega coisas de quando éramos crianças: a forma de amarrar o cadarço, o olhar furtivo ao bolo de chocolate que tá lá na janela, ou o olhar frustrado quando recebia reclamações por ter mexido na caixa de costuras da mãe. E não é verdade? Mas agora, só o momento é diferente, embora ela sempre use as mesmas ferramentas.

Um comentário:

Nino disse...

Muito bom o seu blog!
O gosto pelo Teatro Mágico tbm...
:)