20.10.10

Primavera invencível

Era setembro, e eu nunca mais vou esquecer: eu andava nas ruas de pedra com os olhos cegos de lágrima; eu inudando as ruas nas águas das minhas tristezas; eu rompedo os muros e desmoronando casas; alagando ninhos de passarinhos e afogando as pessoas em águas choradas.

Se ao menos eu tivesse notado o quanto um cogumelo com teto de nylon acolhe, com suas hastes de material tão frio, e o seu cabo de metal inoxidável, o que os braços de um homem não quer mais; se ao menos tivesse notado as pequeninas flores de primavera que caíam sobre o cabelo da moça, adornando-a sem fita e sem laços, fazendo brotar a beleza não manifesta nos traços do rosto tão ríspido; se eu tivesse parado um instante, um instante que fosse, e admirado as pequenas plantinhas que insistem em nascer entre a terra e o asfalto, então eu teria me confortado, e teria me apaixonado mais uma vez por esse mundo real, que só queria olhos bem abertos para desabrochar em delicadezas. Delicadezas impostas em um raio de sol acariciando os rostos dos transeuntes. Mas tudo isso eu não pude ver numa manhã tão fria como uma pedra, quando os meus olhos, forrados por cílios e trancados com ferrolhos não quiseram enxergar o mundo por trás das cortinas; um mundo  entregando-me a mais bela das flores e dizendo: não chora que hoje é um dia feliz.

Então ele chegou em silêncio para dizer que os seus olhos também inundavam; que todos os olhos se inundam quando erguidos sobre o aterro da solidão. E que eu deixasse que toda a água corresse, para que então pudesse lavar a noite que existe no vazio do coração, tanto, tanto, e tanto... até que amanhecesse.

11 comentários:

Anônimo disse...

Admiro seu talento, Rutinha. Digo isto em sinceridade e em verdade de palavras.

Meus olhos estão cheios de lágrimas, e eu não pude ver tão claramente a essência destas belas palavras que tu proferiste. Mas, entendi que são ricas e sábias para nos ensinar.

Abraço forte,
Dude

Rodolpho Padovani disse...

Que todas essas lágrimas lavem as tristezas desse coração para que a felicidade possa reinar e para que todas as coisas boas que o mundo entrega possam ser admiradas.

Bjs =)

Camila Costa disse...

Eu adoro suas produções, por isso acompanho seu blog.

Quanto a esse post : Quem é que nunca se sentiu assim ? Talvez nunca tenha parado pra pensar nos detalhes, mas tenho certeza que todos.

beijo, bom fim de semana.

Brunno Lopez disse...

A mais bela das flores pode então secar todas as lágrimas?

Esse texto é de uma beleza tempestuosa, me faz lembrar algumas passagens pouco agradáveis de minha estrada de terra.

Mas existe uma resposta no final, que você deixou clara. E isso salvou o dia por aqui...

Visitei e espero voltar logo menos.

Andressa Tavares disse...

preciso fazer isso pra vê se as lágrimas tem o mesmo efeito em mim!
Lindo o texto Rute!
parabéns (:

Unknown disse...

Muito bom :)
Não percebeu enquanto chorava, mas descreveu muito bem as sutilizas depois que as lágrimas secaram :)

Anônimo disse...

Maravilhoso!

Gaby Lirie disse...

Rute eu também te admiro menina ^^

Em poucas leituras que fiz de seus textos já percebi o quanto você é uma bela escritora.

Lindo!

Grande Beijo.

Babi Leão disse...

Como eu amo vir aqui e ler essas coisas lindas! Mais um texto que umideceu meu coração! Parabens !
Beijinho :*

Mariana Felipe disse...

Ah, para de escrever lindo assim, menina ! rs

Andreia Sieczko disse...

Adorei esse texto! Meus olhos encheram-se de lágrimas. Entendi cada palavra. Vou te seguir, acompanhar suas letras. Andreia Sieczko