25.4.10

Querida Glorinha

Quanto tempo a gente leva pra deixar que os nossos olhos descansem da espera? E deixar que eles se fechem suaves, devagar, enquanto vem um anjo e vai prendendo nossos cílios, um a outro, na tentativa de que a gente não acorde nunca mais? Quanto tempo a gente leva pra se acostumar com o telefone que nunca toca, com a voz do outro lado que nunca mais vai dizer: tô voltando? Nunca mais. Foi nesses dias, Glorinha, que eu percebi que a falta que a gente sente do outro às vezes é tanta que a gente esquece da gente, que a gente se perde dentro de si mesmo, que a saudade nem é mais da gente porque nem existimos mais. Só o outro. E a saudade, com seus ares de chantagem, está em toda parte. No livro, na árvore, no caixa de supermercado, na fila do banco, no portão de saída... E quando chega a noite, ela escolhe o pior lugar, deita bem do lado da gente na cama e fica acariciando a nossa face, enxugando os nossos olhinhos úmidos, repetindo a última frase ouvida, e nos lembrando que "não volta nunca mais."

Um comentário:

Raquel Baracho disse...

Nossa, chorei lendo... serio mesmo, tu escreve muito bem!