Querido Orlando,
Hoje senti os teus olhos em mim. Me observaram durante um longo tempo. E por um tempo tive tanto medo de abrir os olhos e sentir os teus pousando sobre os meus, encontrando-os, penetrando-os, navegando-os, que nem me dei conta de que já estava conversando contigo, andando contigo, dividindo contigo o meu guarda-chuva amarelo. Tive medo de perder os meus dentro dos teus. Me perder em ti pra me encontrar enfim. Então virei e vi a cortina da janela balançando. E eu só queria dizer que a porta está aberta. Mas se quiser mesmo pular a janela, fica à vontade.
Da janela dá pra gente ver o sol nascendo, se pondo, as crianças correndo lá fora, brincando de gira-gira. Lá fora, a menina andando em círculos nem percebe o quanto cresceu. Volta sempre pra o mesmo lugar, mas já não é a mesma. Nunca sai do prumo, sempre andando em círculos, seguindo o ponteiro do relógio, correndo com e não contra o tempo.
Naquele momento percebi que o tempo não pode fazer muita coisa com a gente. Se todas as coisas se acabam porque o tempo é mau e não deixa que elas continuem, há uma coisa que o tempo não detém, Orlando. Palavras são à prova de tempo. Então, guardei aquela carta por dentro dos meus olhos para quando o tempo mudar, eu não esquecer você. Pra quando o tempo mudar, e o céu ameaçar explodir de tão cinza que está, você, como sempre, não me responder palavras, não me escrever palavras, mas quando o sol for sumindo, você sorrir e se encolher comigo embaixo do meu guarda-chuva amarelo.
11 comentários:
Belíssimo, singelo e tocante... algo me lembra Rita Apoena no estilo - e isto é um elogio, não um desmerecimento à originalidade que de fato tem... ;)
lembra mesmo Rita Apoena? Ah, consegui! :)
Eu gosto da leveza de suas palavras.
Bom texto, até mais doutora.
Perfeito!
aah, quando eu crescer, quero escrever pelo menos parecido com você *-*. nossa rutinha, o texto ficou ótimo. com certeza, um dos meus preferidos aqui no teu blog. parabéns. 3 bgs :*
Queria eu saber ser tão leve com as palavras, moça.
Queria eu, um dia, encontrar um guarda-chuva desses. Mas, ultimamente, tenho aproveitado banhos de chuva, esperando ou não por ela.
Gostei. (muito)
Pois é, a menina que andando em círculos nem percebe o quanto cresceu, voltando sempre ao mesmo lugar, mas jamais a mesma. Nunca sai do prumo, seguindo sempre o ponteiro do relógio, e correndo. Mas não contra, com o tempo.
Rute, seus textos me fascinam. Muito lindo (:
Parabéns garota. Ótimo texto. Um dos mais belos que já li!
Já falei que amo como você escreve ? Se já disse, repito. E quando eu crescer , quero escrever igual a você !
Coisa maravilhosa é vagar pela internet e de repente encontrar um rumo aqui no seu blog ! Como escreve bem , meu Deus !
Que Ele continue te abeçoando com esse dom maravilhoso !
assim como o Orlando, vocês são queridos!
e eu só queria agradecer.
Obrigada mesmo! :)
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