31.12.11
31.10.11
folha em branco
Querido Orlando,
será que, às vezes, a gente se dá tanto a outra pessoa que chegamos a desaparecer? Será que quando damos uma carta, um bilhete, um telefonema que nunca é correspondido, será que é assim que a gente vai se perdendo? Será que é assim que tudo se acaba? Ou nem mesmo começa?
Ontem eu me procurei por todos os cantos que eu costumo ir, mas não me achei! Foi aí que eu percebi que eu não tinha mais nada, que foi tudo embora, Orlando, que eu não tinha mais nem eu! Mas onde foi que eu me perdi? Em que verbo, poesia ou esquina eu deixei que eu fosse embora de mim sem nem mesmo me despedir? A janela do quarto estava aberta e o vento me trouxe uma folha em branco. A folha sorriu pra mim com seu sorriso imenso e branco. Ela disse que sim, que me entendia: ela mesma era um grande vazio. Mas eu não sei te preencher, disseram meus dedos.
será que, às vezes, a gente se dá tanto a outra pessoa que chegamos a desaparecer? Será que quando damos uma carta, um bilhete, um telefonema que nunca é correspondido, será que é assim que a gente vai se perdendo? Será que é assim que tudo se acaba? Ou nem mesmo começa?
Ontem eu me procurei por todos os cantos que eu costumo ir, mas não me achei! Foi aí que eu percebi que eu não tinha mais nada, que foi tudo embora, Orlando, que eu não tinha mais nem eu! Mas onde foi que eu me perdi? Em que verbo, poesia ou esquina eu deixei que eu fosse embora de mim sem nem mesmo me despedir? A janela do quarto estava aberta e o vento me trouxe uma folha em branco. A folha sorriu pra mim com seu sorriso imenso e branco. Ela disse que sim, que me entendia: ela mesma era um grande vazio. Mas eu não sei te preencher, disseram meus dedos.
(...)
Não resisti: me entreguei à folha. E afundei o meu vazio nela o mais que pude. Como se assim pudesse aprisionar o meu vazio em um instante. Como se assim pudesse aprisionar o amor. Então eu aprendi: não importa o quanto você não exista mais pra você, nem em quantos mil pedacinhos você se encontra depois da decepção. Uma folha em branco pode ser uma carta pra alguém que, mais que tudo! apesar de tudo! em uma fração de segundo me comove e me arrebata e me abraça com um abraço forte e me completa. E isso é maior que tudo, mais lindo que tudo, muito mais lindo do que se eu fosse uma pessoa inteira.
6.10.11
29.9.11
Feliz aniversário!*
Ela se levanta pela manhã. Abre os olhos, mas sente uma enorme preguiça de se levantar. Seu corpo etá totalmente relaxado e seu despertador toca sem parar. Ela toma fôlego para se levantar e olha para o seu celular: 29 de setembro.
O calor da manhã reluzente começa a invadir o seu corpo. Levanta-se e abre a janela. A luz do sol a deixa cega por alguns segundos. O cheiro que vem do campo em frente ao seu quarto, emana flores e frutas. Ela enfim, toma coragem para tomar um banho, frio.
Na mesa, várias pessoas queridas se sentam ao seu redor. Ela se sente amada, como em nenhum outro dia. Sua mãe lhe mostra a travessa de prata que sua avó lhe dera quando ainda era moça. O cheiro invadia toda a casa. A torta dourada, lhe lembrava aquelas de desenho animado que tanto desejara quendo ainda era criança. Sim, porque hoje, não era mais, ou talvez até fosse.
Ao cortar a torta, sente o incrível aroma da fruta que tanto gosta. A maciez da textura lhe agrada. Ao degusta-la, lembrou-se de toda a sua infância durante o tempo que a maciez da torta se desmanchava em sua boca. Era a torta de pêra que tanto gostava.
Durante os poucos minutos em que deliciava tal iguaria caseira, conversava com seus pais, lembrando do tempo em que brincava lá fora, próxima ao pé de pera, que tanto admirava. Hoje, o sabor daquela torta estava diferente. Podia apreciar o aroma, o sabor, a textura com mais propriedade. Não era mais aquela criança que se lambuzava toda e recebia broncas da mãe por querer comer a torta antes do almoço. Ela então entendeu: havia se tornado uma mulher.
*O texto é um presente da abiga Jéssica Lira. A torta de pera é contexto de uma história muito importante. Obrigada, amiga.
O calor da manhã reluzente começa a invadir o seu corpo. Levanta-se e abre a janela. A luz do sol a deixa cega por alguns segundos. O cheiro que vem do campo em frente ao seu quarto, emana flores e frutas. Ela enfim, toma coragem para tomar um banho, frio.
Na mesa, várias pessoas queridas se sentam ao seu redor. Ela se sente amada, como em nenhum outro dia. Sua mãe lhe mostra a travessa de prata que sua avó lhe dera quando ainda era moça. O cheiro invadia toda a casa. A torta dourada, lhe lembrava aquelas de desenho animado que tanto desejara quendo ainda era criança. Sim, porque hoje, não era mais, ou talvez até fosse.
Ao cortar a torta, sente o incrível aroma da fruta que tanto gosta. A maciez da textura lhe agrada. Ao degusta-la, lembrou-se de toda a sua infância durante o tempo que a maciez da torta se desmanchava em sua boca. Era a torta de pêra que tanto gostava.
Durante os poucos minutos em que deliciava tal iguaria caseira, conversava com seus pais, lembrando do tempo em que brincava lá fora, próxima ao pé de pera, que tanto admirava. Hoje, o sabor daquela torta estava diferente. Podia apreciar o aroma, o sabor, a textura com mais propriedade. Não era mais aquela criança que se lambuzava toda e recebia broncas da mãe por querer comer a torta antes do almoço. Ela então entendeu: havia se tornado uma mulher.
*O texto é um presente da abiga Jéssica Lira. A torta de pera é contexto de uma história muito importante. Obrigada, amiga.
23.9.11
Como a primavera pode começar
Antes da segunda parte do trabalho, uma pausa para o chá. À minha frente está um homem de olhos de pêssego. Uns olhos assim tão doces e suaves que até se tem vontade de comê-los. Todas as tardes pede o chá de maçã, cravo e canela, e se ajeita o mais confortável possível, como se pudesse passar todo o resto da tarde ali. Eu olho pra o relógio impaciente, contando cada segundo pra o retorno ao trabalho.
- O meu é de camomila, por favor!
Durante o chá ele levanta os olhos (que vontade de comê-los!) e o elogia. Enquanto isso, o vapor que sai do chá mistura-se com o som da suas palavras que agora tem cheiro e cor. O homem à minha frente vai tomando o chá aos poucos, assoprando-o. Eu dou o primeiro gole e ai! Queimei a língua!
Depois do chá, chama o garçom e paga a conta. Agora seus dedos estão aninhados nos meus. Se fôssemos semente e terra, as suas raízes estariam em mim, e eu as alimentaria. Mas como dois seres assim tão diferentes podem fazer brotar uma flor?
- O meu é de camomila, por favor!
Durante o chá ele levanta os olhos (que vontade de comê-los!) e o elogia. Enquanto isso, o vapor que sai do chá mistura-se com o som da suas palavras que agora tem cheiro e cor. O homem à minha frente vai tomando o chá aos poucos, assoprando-o. Eu dou o primeiro gole e ai! Queimei a língua!
Depois do chá, chama o garçom e paga a conta. Agora seus dedos estão aninhados nos meus. Se fôssemos semente e terra, as suas raízes estariam em mim, e eu as alimentaria. Mas como dois seres assim tão diferentes podem fazer brotar uma flor?
13.9.11
o caminho do vento
Querido Orlando,
no fim da tarde eu abri a janela e senti o vento varrendo a primavera pra dentro de mim. Enchi o peito e expirei mil cores. O vento veio não sei de onde, mas não neguei-lhe que inundasse minha garganta, fizesse tempestade em minha barriga e se abrandasse ali em forma de borboletas coloridas. Quem sabe o caminho do vento? Se já não arrastou portas, telhados e janelas, já não levou fotografias a bueiros, já não virou páginas de livros ou carregou consigo uma folha por cinco segundos. Cinco segundos. Nos segundos eternos em que uma folha achava que poderia voar. Foi aí que eu entendi, Orlando, que nenhum amor nasce preso entre quatro paredes. Que nenhum amor floresce sem que percorra, nem por um instante, o caminho dos ventos. Um amor só é capaz de sobreviver no coração que é acostumado ao carinhos do universo.
no fim da tarde eu abri a janela e senti o vento varrendo a primavera pra dentro de mim. Enchi o peito e expirei mil cores. O vento veio não sei de onde, mas não neguei-lhe que inundasse minha garganta, fizesse tempestade em minha barriga e se abrandasse ali em forma de borboletas coloridas. Quem sabe o caminho do vento? Se já não arrastou portas, telhados e janelas, já não levou fotografias a bueiros, já não virou páginas de livros ou carregou consigo uma folha por cinco segundos. Cinco segundos. Nos segundos eternos em que uma folha achava que poderia voar. Foi aí que eu entendi, Orlando, que nenhum amor nasce preso entre quatro paredes. Que nenhum amor floresce sem que percorra, nem por um instante, o caminho dos ventos. Um amor só é capaz de sobreviver no coração que é acostumado ao carinhos do universo.
4.9.11
os passarinhos
Quando era de manhã e Glorinha se acordava para dar comida aos passarinhos que a esperavam no quintal, ela ia correndo e gritando: hora de comer, passarinhos! Está na hora de comer!
Então o seu avô, Seu Cândido, a chamava, afagava a sua cabeça e pedia com doçura nos olhos e na fala: Não dê tempo aos passarinhos.
Então o seu avô, Seu Cândido, a chamava, afagava a sua cabeça e pedia com doçura nos olhos e na fala: Não dê tempo aos passarinhos.
26.8.11
o tempo, parte II
O trabalho com os relógios havia ajudado ao Seu Cândido a serenar quando o que se quer mesmo fazer é trovejar. Pois havia aprendido que tempo não é relógio, dinheiro, remédio... Ele sabia que, muitas vezes, nem o tempo cura. Para ele, tempo era aprendizagem, sabedoria. Um livro à disposição de analfabetos e doutores, míopes e estigmáticos, daltônicos, juízes e réus. Um livro de respostas para muitas perguntas. Mas ele sabia que, muitas vezes, nem o tempo é capaz de dizer.
24.8.11
o tempo, parte I
Sempre que interrogado sobre sua ocupação, Seu Cândido respondia que trabalhava com o tempo. A verdade era que ele trabalhava com as horas e passava a maior parte dela na sua oficina consertando relógios. Ele era Cândido no nome e na alma. E fazia jus ao nome que recebera no nascimento assim como os pássaros o fazem. (...)
9.8.11
7.8.11
dois
Eu lembro bem sob quais circunstâncias você foi criado. E sei mencionar sob quais motivos você existe até hoje, que aliás, não são os mesmos desde o início. Seu nome tem história e significado, e sua bagunça é proposital. Um varal cheio de cores e formas, onde estendo as roupas que lavo na poesia, cada uma com sua lavagem especial. Circunstâncias, motivos, significados e histórias não cabem a vocês, leitores, que compreendam. Porque a mim já basta que vocês leiam e, de alguma forma, se identifiquem com as roupas que eu, pacientemente, estendo no varal. Obrigada por esses dois anos.
E ainda há tanta roupa a se lavar...
E ainda há tanta roupa a se lavar...
29.7.11
Canteiro de girassóis
Querido Orlando,
Estive aqui me perguntando: desde quando o tempo existe? Qual a distância entre o começo dele e o seu fim? E se é como dizem, que é infinito, em que pedaço ou fatia do tempo meus olhos encontraram o teu? Onde parou o ponteiro do relógio no exato instante em que os teus olhos passaram a existir para mim? E até quando ele ficará ali, parado no tempo e no espaço, enquanto nós dois contamos histórias de girassóis e guarda-chuvas?
Porque existe isso de o tempo não passar, de a vontade não passar, de o amor não passar enquanto os olhos, cúmplices, contarem histórias que não existem nos livros, que não existe nem na imaginação de qualquer outra pessoa além dos dois. Histórias de uma certa primavera, de uma certa chuva inesperada, de um encontro casual, de uma ponte em forma de guarda-chuva unindo dois olhares, de umas sementes de girassóis presenteadas, de uma plantação germinando, crescendo, florindo e, inevitavelmente, morrendo... De um amor germinando, crescendo, florindo, mas que não morre. E não morre nunca. No nunca que só chega quando a linha do tempo acaba. Quando isso acontece todo mundo diz: "Ele volta..." e o relógio diz: "Ele volta..." e não volta. Porque o relógio dá voltas, mas o tempo, não.
Aí me surge outra pergunta, Orlando: quantas sementes serão plantadas para que eu preencha o canteiro dos seus pensamentos?
Estive aqui me perguntando: desde quando o tempo existe? Qual a distância entre o começo dele e o seu fim? E se é como dizem, que é infinito, em que pedaço ou fatia do tempo meus olhos encontraram o teu? Onde parou o ponteiro do relógio no exato instante em que os teus olhos passaram a existir para mim? E até quando ele ficará ali, parado no tempo e no espaço, enquanto nós dois contamos histórias de girassóis e guarda-chuvas?
Porque existe isso de o tempo não passar, de a vontade não passar, de o amor não passar enquanto os olhos, cúmplices, contarem histórias que não existem nos livros, que não existe nem na imaginação de qualquer outra pessoa além dos dois. Histórias de uma certa primavera, de uma certa chuva inesperada, de um encontro casual, de uma ponte em forma de guarda-chuva unindo dois olhares, de umas sementes de girassóis presenteadas, de uma plantação germinando, crescendo, florindo e, inevitavelmente, morrendo... De um amor germinando, crescendo, florindo, mas que não morre. E não morre nunca. No nunca que só chega quando a linha do tempo acaba. Quando isso acontece todo mundo diz: "Ele volta..." e o relógio diz: "Ele volta..." e não volta. Porque o relógio dá voltas, mas o tempo, não.
Aí me surge outra pergunta, Orlando: quantas sementes serão plantadas para que eu preencha o canteiro dos seus pensamentos?
22.7.11
Feliz aniversário, decepção
Há vidas que se vivem em um dia. Mas há dias que podem durar uma vida inteira. E foi assim com nós dois.
Enquanto o universo tinha as coisas individuais, - um céu, um sol, um mar - nós éramos dois. E éramos como quem só podia ser hoje e agora: como se o amanhã fosse algo muito distante e incerto.
Era agosto e, enquanto eu estava refugiada com os meus medos, seus olhos de infinito me encontraram. Os medos afloraram e apelaram em gritos, rancorosos da última vez que eu os deixei transparecer. Mas aqueles eram olhos que não tinham segredos ou códigos, tão translúcidos como a água deste copo e não me davam alternativas... Porque existem olhos que são úmidos de oceano, que não ferem e nem rasgam, que são capazes de atravessar o céu sem perfurar as estrelas.
Eu deveria abrir mão da primavera do mês seguinte, de plantar as sementes no mês seguinte. E eu não sabia mais sobre o que falar, porque eu vivia as outras estações somente pela primavera. Era sobre isso que eu sabia falar: sobre as sementes germinando, sobre o regador, sobre como evitar as formigas e, principalmente, sobre como recolher as novas sementes. É sobre os girassóis que eu falo para o mundo, e ele gosta de me ouvir.
Eu resistia escutando os meus medos gritarem na minha cara que, apesar de você me assegurar que não era igual aos outros e que duraria muito mais que a primavera, pois era amigo das flores de plásticos (as imortais flores de plástico!), você era igual. Mas eu não quis ouvir, e eu não pude evitar quando você me perguntou: vai fugir até quando?
Eu abri mão da primavera do mês seguinte, de plantar as sementes no mês seguinte. E agora, quando eu encostar a minha mão na sua e nascerem árvores de plástico como é que vai ser? Será que o mundo vai tampar os ouvidos? Será?
8.7.11
"ter fé e ver coragem no amor"*
Dele não duvido e nem desisto. Porque eu acho que o amor, diferente de tantos outros sentimentos, é coisa que a gente tem por direito. Como o ar, como ao nosso próprio corpo.
* trecho da música "último romance" - Los Hermanos
17.6.11
16.6.11
10.6.11
A narradora
As ideias, como pássaros, pousaram lentamente sobre sua cabeça. Rodearam-na durante dias, até que conseguiram fazer adormecer os seus medos. Porque a menina contadora de histórias, sentada no último degrau da escada, não sabia em que ponto da história havia se perdido. Não sabia se havia sido no nó da linha do tempo, ou se a própria linha havia acabado. Quando chegaram ao último ponto, tudo o que restava era uma menina, de olhos e cabelos castanhos profundos, sentada no último degrau da escada em espiral, exatamente no último degrau onde havia escrito o último parágrafo da mais bela de suas histórias. E agora as histórias estavam apenas nos seus livros, nos guardanapos, até nas paredes do quarto, pois, se teria que viver trancada, que fosse entre quatro páginas.
As palavras que foram sussurradas agitavam as flores azuis que ela segurava no retrato, e ao seu lado só existia um monte de nada. Não era sequer o nada, já que o nada tem contornos bem definidos, os contornos daquilo que poderia existir, mas não. A menina das mãos desamparadas, sem poder alcançar parágrafo nem pontuação, sabia que deveria haver uma história ao seu lado, uma história que não enxergava, uma história que não participava e, tampouco, conseguia entrar. Ou não sabia. O outro narrador também não. Mas ela não sairia de suas páginas enquanto o seu coração estivesse vazio: um coração cheio de saudade está vazio. Pois, no dia em que todos forem embora, quem ficará para chorar? Até esse dia, ficarão assim, ela tão perdida quanto ele, sem saber aonde essa história vai dar.
As palavras que foram sussurradas agitavam as flores azuis que ela segurava no retrato, e ao seu lado só existia um monte de nada. Não era sequer o nada, já que o nada tem contornos bem definidos, os contornos daquilo que poderia existir, mas não. A menina das mãos desamparadas, sem poder alcançar parágrafo nem pontuação, sabia que deveria haver uma história ao seu lado, uma história que não enxergava, uma história que não participava e, tampouco, conseguia entrar. Ou não sabia. O outro narrador também não. Mas ela não sairia de suas páginas enquanto o seu coração estivesse vazio: um coração cheio de saudade está vazio. Pois, no dia em que todos forem embora, quem ficará para chorar? Até esse dia, ficarão assim, ela tão perdida quanto ele, sem saber aonde essa história vai dar.
25.5.11
Anúncio: Precisa-se
Precisa-se de braços que saibam - e estejam dispostos - a envolver-se nos braços de outro.
Interessados, mantenham-nos abertos, principalmente se estiver fazendo frio.
Interessados, mantenham-nos abertos, principalmente se estiver fazendo frio.
25.4.11
Nos dias de Chuva
Atravessou a rua em direção a Padaria do Seu Teodoro, num dia de inverno, debaixo do seu guarda-chuva amarelo, e ia atenta ao mundo e as pessoas. Tentava decifrar todos os rostos, todas as feições. Estaria esse feliz? Por que motivo este outro está com a testa franzida? Deve ser por que tomou café sem leite. Ou talvez a sua carona demorou, demorou, demorou, e ele teve que andar debaixo desse guarda-chuva, sozinho. Mas, eu acho que deve ter sido mesmo o café sem leite. Café sem leite definitivamente entristece as pessoas.
Mais alguns passos adiante, - não muitos, porque a padaria ficava logo na esquina da sua casa, mas esse era o único lugar mais longe que poderia ir sozinha, por isso, aproveitava cada segundo - outras tentativas de decifração de rostos, e Glorinha pensa numa outra alternativa.
- Um dia de inverno é um dia de solidão. - pensou Glorinha - Dia em que as pessoas se encolhem debaixo de agasalhos, e se dão um abraço apertado, com os lábios tremendo... Mas não tem ninguém ali nem pra abraçar nem pra beijar. Um dia de inverno é um dia de solidão - repetiu Glorinha.
E foi, olhando agora pra cada rosto e encontrando neles a falta de alguém, a falta do bom dia que só é quentinho quando se está debaixo do cobertor, das meias nos pés que o mantém aquecido durante a noite, do café levado até a cama junto com uma rosa. Um café com leite que essas pessoas não tomaram.
Mais alguns passos adiante, - não muitos, porque a padaria ficava logo na esquina da sua casa, mas esse era o único lugar mais longe que poderia ir sozinha, por isso, aproveitava cada segundo - outras tentativas de decifração de rostos, e Glorinha pensa numa outra alternativa.
- Um dia de inverno é um dia de solidão. - pensou Glorinha - Dia em que as pessoas se encolhem debaixo de agasalhos, e se dão um abraço apertado, com os lábios tremendo... Mas não tem ninguém ali nem pra abraçar nem pra beijar. Um dia de inverno é um dia de solidão - repetiu Glorinha.
E foi, olhando agora pra cada rosto e encontrando neles a falta de alguém, a falta do bom dia que só é quentinho quando se está debaixo do cobertor, das meias nos pés que o mantém aquecido durante a noite, do café levado até a cama junto com uma rosa. Um café com leite que essas pessoas não tomaram.
2.4.11
Quando penso, parte I
Às vezes eu penso assim: que cada um é um separado, sem ligação com o que existe do lado de fora, sem nenhum contato externo, sem influências. Mas na maioria do tempo o meu pensamento é isso: um não consegue sem o outro: tudo é parte de um todo.
22.3.11
14.3.11
Profissão
Poetas, na verdade, são apenas jornalistas que nunca conseguiram cobrir um grande caso. Tudo o que eles conseguem noticiar é sobre a menina que abraça o seu amigo, ou sobre os girassóis que acabaram de florir.
12.3.11
Vou te contar, Glorinha,
a vida é tão engraçada! Há dias, semanas, meses tão cheios de acontecimentos! E depois chegam épocas de calmaria, de esquecimento... Períodos em que as criaturas e as coisas parecem não ter o mesmo sentido. E eu não sei se nesses tempos, quando o vazio é muito grande, se eu sinto saudade das coisas que já foram, ou se o que me falta é o que ainda virá.
4.3.11
Fábula I
Então a tartaruga disse: Amigo, não tente tirar o peso das minhas costas enquanto você não o puder carregar.
A gente tem mania de achar que a cruz dos outros é menos pesada.
A gente tem mania de achar que a cruz dos outros é menos pesada.
25.2.11
Enquanto o sono não vem
Eu queria viajar de trem, lendo um livro, num vagão meio vago, vendo você do outro lado olhando discretamente, enquanto eu sorria.
21.2.11
10.2.11
5.2.11
Motivos de verão
Querido Orlando,
Não sei se a escrita antecipa a Rute ou se foi o contrário. Eu só sei que existe uma necessidade, uma maior do que a minha própria existência, que extrapola nervos e artérias, rompe tendões e atinge músculos: uma vontade do intangível, do inalcançável, que se torna simples e possível quando desenrolo os papeis de cartas, e após um suspiro, começo a escrever-te. Faço isso sem pressa, e sem ao menos resíduos de esperança de uma resposta. Apenas escrevo. Aconteça o que acontecer.
Porque existe isso de me sentar à janela e começar a desenrolar a linha do tempo. Vindo do último capítulo, do último dia de primavera, e desfazendo-me dos embaraços e dos nós. Desfazendo-me de nós, com as minhas mãos sobre o meu colo, querendo encontrar motivos para a primavera ter que acabar assim, levando consigo o mais belo dos arco-íris que surgiu após a chuva e você dividiu comigo o seu guarda-chuva amarelo.
Até onde vai a primavera? Até a rua mais próxima? Até uma folha flutuando no lago? Ou será que até os nossos olhos nos olhos do outro? Mas os motivos da fuga da primavera, eu só encontro no verão. Quando os meus olhos, nos outros que eu encontro no espelho, liquefazem meus próprios labirintos, desaguando a solidão em palavras. Pois finda o último da primavera, mas amanhecerá um belo e sorridente dia de verão. Anoiteça o que anoitecer.
Queridos, a ideia do texto é originalmente do meu amigo Lucas Azevedo. Acho que ele estava preocupado com meu apego pela primavera e sugeriu o verão. E me fez um bem! Obrigada.
Não sei se a escrita antecipa a Rute ou se foi o contrário. Eu só sei que existe uma necessidade, uma maior do que a minha própria existência, que extrapola nervos e artérias, rompe tendões e atinge músculos: uma vontade do intangível, do inalcançável, que se torna simples e possível quando desenrolo os papeis de cartas, e após um suspiro, começo a escrever-te. Faço isso sem pressa, e sem ao menos resíduos de esperança de uma resposta. Apenas escrevo. Aconteça o que acontecer.
Porque existe isso de me sentar à janela e começar a desenrolar a linha do tempo. Vindo do último capítulo, do último dia de primavera, e desfazendo-me dos embaraços e dos nós. Desfazendo-me de nós, com as minhas mãos sobre o meu colo, querendo encontrar motivos para a primavera ter que acabar assim, levando consigo o mais belo dos arco-íris que surgiu após a chuva e você dividiu comigo o seu guarda-chuva amarelo.
Até onde vai a primavera? Até a rua mais próxima? Até uma folha flutuando no lago? Ou será que até os nossos olhos nos olhos do outro? Mas os motivos da fuga da primavera, eu só encontro no verão. Quando os meus olhos, nos outros que eu encontro no espelho, liquefazem meus próprios labirintos, desaguando a solidão em palavras. Pois finda o último da primavera, mas amanhecerá um belo e sorridente dia de verão. Anoiteça o que anoitecer.
Queridos, a ideia do texto é originalmente do meu amigo Lucas Azevedo. Acho que ele estava preocupado com meu apego pela primavera e sugeriu o verão. E me fez um bem! Obrigada.
25.1.11
Conselhos de fadas
A Glorinha me apareceu muito triste um dia desses. Chegou com os olhos embotados de lágrimas, a coitada. Soluçava e falava ao mesmo tempo, e eu não entendi nada. Ofereci sorvete e o ombro: ela aceitou. E me falou sobre alguns machucados do seu coração que doíam bastante. Mas eu disse a ela que não, não valia a pena chorar por esses bobos! É isso o que eles são, Glorinha: uns bobos! São apenas garotos com corações cheios de maldade, que gostam de ver chorar garotas assim como você. Garotas boas, que merecem uma pessoa tão especial que talvez nem exista nessa Terra.
18.1.11
Fagulha
Ah, Glorinha, mas você sabe: muita gente se acomoda quando alguém diz que se essa é a lógica das coisas, é impossível mudá-la. Mas "impossível" é um palavrão que pessoas pequenas usam pra te insultar quando você quer muito tocar uma estrela. Ou ter um amor. E, olha, por menor que seja a fagulha de esperança, ainda há. E se há...
Mas eu não acredito nessas pessoas. E os medos que a gente pensa que tem, são apenas monstros imaginários que tentam espantar os bons sonhos. Os meus medos, antes assoladores, agora assumem o leme e além! Além! Por isso que, pra mim, não tem isso de impossível ou complicado demais. E eu ainda prefiro os relacionamentos sem intenções, sem julgamentos e sem desconforto. Porque eu acho que um grande amor só pode nascer, e crescer, e nunca morrer, se surgir de um bom amigo.
Mas eu não acredito nessas pessoas. E os medos que a gente pensa que tem, são apenas monstros imaginários que tentam espantar os bons sonhos. Os meus medos, antes assoladores, agora assumem o leme e além! Além! Por isso que, pra mim, não tem isso de impossível ou complicado demais. E eu ainda prefiro os relacionamentos sem intenções, sem julgamentos e sem desconforto. Porque eu acho que um grande amor só pode nascer, e crescer, e nunca morrer, se surgir de um bom amigo.
11.1.11
Flores de plástico
Orlando,
Primeiro eu me surpreendi; agradeci-o; dei-me completamente às sementes; fui recompensada com as flores. Mas agora, eles estão despetalados. Os girassóis, Orlando, os girassóis vistos assim nem mais parecem girassóis.
Então é isso? Era exatamente isso que você queria me dizer quando deu-me as sementes?
Primeiro você se rende ao amor, e encanta-se de uma maneira que poderia dar a sua vida por ele.
Em seguida ele te retribui, e te gratifica presenteando-te com as mais belas flores, das mais belas cores.
Mas então, ele murcha. E vai embora. E morre.
Pois, se era pra cuidar e depois ver morrer um amor que tinha tudo pra dar certo, e sentir-se culpada por isso, por que não me deu flores de plástico? Por quê?
Então é isso? Era exatamente isso que você queria me dizer quando deu-me as sementes?
Primeiro você se rende ao amor, e encanta-se de uma maneira que poderia dar a sua vida por ele.
Em seguida ele te retribui, e te gratifica presenteando-te com as mais belas flores, das mais belas cores.
Mas então, ele murcha. E vai embora. E morre.
Pois, se era pra cuidar e depois ver morrer um amor que tinha tudo pra dar certo, e sentir-se culpada por isso, por que não me deu flores de plástico? Por quê?
2.1.11
Não é, Glorinha?!
Mesmo assim ela gira, e gira; por isso que há os dias de sorte e de azar.
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